É engraçado como achamos que somos os donos da verdade. Como
acreditamos que existam formulas e receitas de bolo para tudo. Subestimamos
mesmo, tudo, até a natureza.
Dudu nasceu de 37 semanas, já disse isso infinitas vezes. Na
minha cabecinha, Milena não passaria disso. Principalmente depois do susto às
34 semanas. Achei pouco provável que passasse das 36. E eis que chego as 38
semanas, o que pra mim é algo inédito.
No entanto, Marido faz cirurgia semana que vem. E como é que
faz?
Pensei na possibilidade da indução... Mas não algo pensado e
amadurecido. Peguei o telefone, liguei para ele pouco antes da consulta e
comentei meu insight... ele concordou.
Explico: Não terá ninguém que possa ficar conosco no período
de recuperação - meu e dele. Meu pai recém quebrou o fêmur, minha mãe está 24h
por dia cuidando dele, E, mora há 40km da minha casa. Minha sogra, recém operou
a coluna.... sem comentários. O resto do povo disponível trabalha... ou seja,
só restamos nós. Marido não sabe mais o que é não sentir dor. Não dorme, mal
consegue andar, cada vez a mobilidade dele está menor e a possibilidade dele
postergar essa cirurgia é meio desumano, sem contar que está de atestado do
trabalho há duas semanas, e ficará mais uns 4 meses em casa pós-cirurgia...
Ontem então, eu tinha uma cardiotocografia logo após o
almoço, onde deu tudo certinho... A Milena está com os batimentos dentro da
normalidade e tive uma contração durante o exame. Ou seja, tudo ótimo.
Saindo do exame, fui direto para a consulta.
Cheguei e já fui atendida. Ainda perdendo o tampão (sou
anormal, fico 4 semanas perdendo o tampão.... sério, nunca vi disso), e com 5
cm de dilatação. No momento do toque a minha querida médica fez o descolamento
de membranas..... E me avisou só depois que terminou o “ato”. Doeu. Muito.
Fisicamente falando, e vendo a luva cheia de sangue e pensar que ela poderia
ter me questionado a respeito e que obviamente eu diria não, doeu ainda mais.
Me senti invadida, violada... Uma dor inexplicável.
Mas OK, era para agilizar as coisas... para ver se teríamos
mais progresso. OK? Tabom, OK. Mas mesmo assim me senti péssima.
Depois disso, comentei com ela a questão da indução, da
possibilidade. Ela disse que poderíamos tentar na sexta, dia 07/06, as 8h, eu
internaria e faríamos a indução.
Pesquisei depois o assunto, e vi que a indução gera um alto
índice de cesárea, mas nos casos em que há pouca dilatação. No meu caso, com
5cm (a meio caminho andado), seria algo mais simples e rápido.
Desde o inicio da gravidez, pretendia fazer o parto sem
analgesia e sem episio (a do Dudu foi com, e não achei legal a recuperação...).
A minha médica disse que havendo necessidade ela fará sim (arrependimento de
não ter buscado um medico a favor do parto humanizado), mas que sabe da minha
vontade e avaliará a situação na hora.
Também não queria saber da ocitocina, onde no do Dudu,
cheguei no hospital com 6 de dilatação e aplicaram a dita cuja... estourou a
bolsa e implorei por analgesia. Nesse parto, eu gostaria que as coisas andassem
por si só. Ocitocina aumenta a dor das contrações.... Ou seja, tudo será meio
(MUITO) diferente do que eu gostaria.
Provavelmente será sim com ocitocina ( parto induzido,
certo?!) e só Deus sabe se darei conta da fazê-lo sem a analgesia.
Só Deus sabe de muita coisa. E a gente (EU) precisa aprender
isso....
OK, voltando... depois que saí do consultório, com um nó na
garganta, fui liberar a guia de internação, e entrei no carro para ir pra casa,
passei a chorar. Inconsolável e incontrolavelmente.
Um sentimento de culpa, de derrota, de trapaça, tomou conta
de mim. Em estar ‘indo contra a natureza’. De não estar respeitando a vontade
da Milena em querer vir ao mundo quando ela bem entender, de estar
desrespeitando-a. Um sentimento muito triste, e ao mesmo tempo, consegui me dar
conta o tamanho do amor que já tenho por ela.
Sempre achei muito taxativo falar em amar um ser que sequer
conhecemos. Amamos, claro, mas nada surreal, e acho que o laço se completa
mesmo ao conhecermos, no momento pele a pele mesmo, no dia a dia. Tanto que me
considerava um monstro na gravidez do Dudu pois não me sentia a gravida mais
paz e amor do mundo... e amor de verdade mesmo, senti no momento do parto, no
primeiro olhar, no primeiro toque.
No entanto, ontem eu senti esse amor indescritível.... uma
vontade de proteger, de respeitar, de amparar e defender de tudo e todos, e ao
mesmo tempo a dor em ter que optar pelo mais sensato, em também poupar o
Marido, meu outro amor. Uma decisão difícil e dolorida...
Cheguei em casa aos prantos e conversando com o Marido, ele
me alertou de uma coisa: já desrespeitamos a vontade dela... Se deixássemos só
a natureza se encarregar das coisas, ela teria nascido de 33 para 34 semanas.
Agora é um pouco diferente, pois ela está prontinha, e não corre risco nenhum.
Foram as palavras que me acalmaram. Sendo bem racional, a
verdade é essa. Intervimos na vontade dela, claro, tentando preserva-la,
afinal, sendo prematura ela corria N riscos.
É difícil julgar e definir o que é melhor para nós mesmos.
Isso só me faz ter uma certeza ainda maior: não devemos julgar as decisões dos
outros, pois só nós mesmos sabemos os motivos que nos levam a tomar certas
decisões.
Se alguém opta por fazer cesárea pelo motivo A ou B, você
que é defensora ferrenha do parto normal, humanizado ou afins, não julgue...
ninguém está no lugar do outro para saber o que é melhor para si. E
independente das nossas escolhas, o fazemos achando que é o melhor, ou a melhor
alternativa. (ou vice-versa... tem quem julgue a cesárea a melhor opção...
opinião: cada um com a sua...)
Eu, Fernanda, no mundo perfeito, optaria por um parto
humanizado, com zero intervenções e tudo lindo e perfeito... Mas é algo
totalmente fora da MINHA realidade, por N motivos. Optei por um parto normal,
que EU acredito ser o melhor para mim e para a bebê. Se por algum motivo,
acontecer algum imprevisto, também não vou me opor à cesárea...
.:.
Para Milena:
Filha... sei que pedi muito para que você esperasse mais
algumas semanas antes de vir ao mundo... Era perigoso e arriscado você chegar
naquele período, como já te expliquei.
Você já cresceu, está mais forte e resistente... Conforme
conversamos, que pode vir assim que se sentir preparada.
Papai está dodói, e sentindo muitas dores, e quer muito
conhecer você antes de fazer uma cirurgia... poder te pegar no colo e
aproveitar seus primeiros dias em casa. Com isso, talvez você chegue um
pouco antes do que você estava prevendo... Até sexta-feira iremos nos olhar
pela primeira vez. Já sinto seu corpinho serelepe em mim, e você já conhece meu
calor e minha voz, mas iremos nos olhar... nos sentir, nos cheirar... coisas
que você ainda não conhece mas que será mágico e emocionante. Irá mamar pela
primeira vez e sentir um gostinho especial, diferente do sabor do liquido que
fica à sua volta. Irá também conhecer seu irmãozinho, que está ansioso pela sua
chegada.
Vai conhecer seu Papai, aquela voz que te deixa toda
saltitante da barriga da Mamãe, e sentir o toque dele.
Todos te amamos muito, e queremos que sua chegada seja o
mais tranquila possível.
Venha Milena, estamos te esperando!!!!
.:.
Beijos já mais aliviados,
Fer